Cercado de violência e polêmica, Teo mira Argentina antes de ir ao 8º clube

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Para tentar entender o que passa pela cabeça de Teo Gutiérrez é preciso voltar no tempo. Um túnel que nos leva à década de 80, quando Teófilo, ainda criança, se atirava ao chão em sua casa em Barranquilla, norte caribenho da Colômbia, em muitas noites. Ele ouvia tiros de gangues que disputavam o controle do bairro La Chinita.

Teo cresceu cercado de violência. Sua residência era fronteira de dois territórios inimigos, os Malembes e os Patrullas. Viu amigos de infância perderem a vida para o crime, alguns presos, outros mortos – caso de John Gabriel Padilla, assassinado dias antes de marcar o seu primeiro gol pelo Junior, em 2007.

– Tinha medo todo o tempo. Devíamos estar fechados, muito precavidos, pois podia aparecer alguém e começar a disparar – lembrou em entrevista ao diário “Olé”.

Teófilo foi forte o suficiente para canalizar o seu talento no futebol – alvo do Corinthians, o atacante defende nesta sexta-feira a Colômbia contra a Argentina, em jogaço pelas quartas de final da Copa América, em Viña del Mar, às 20h30 (de Brasília). Se perder, poderá iniciar as tratativas para convencer o River a aceitar a proposta do Timão.

– Me salvou de uma guerra – disse em entra entrevista, ao “Canchallena”.

A mesma rua que poderia acabar com suas ambições testemunhou o seu desenvolvimento. Era na calle La Frontera que Teo praticava suas habilidades, hoje notáveis num campo de futebol. Segundo de sete irmãos, ele praticamente não tinha outra alternativa diante dos altos custos da família.

Para se manter na adolescência, chegou a trabalhar descascando peixes no centro de Barranquilla – a cidade é o principal centro econômico da região do Caribe colombiana e tem o comércio como destaque. Ganhava o suficiente para pagar o transporte aos treinos e comida. Nos anos seguintes, ao receber o primeiro grande salário profissional, retribuiria o incentivo do pai e mãe comprando uma casa bem longe da Faixa de Gaza colombiana.

Teo deixou a Colômbia pela primeira vez em 2010. Passou um ano na Turquia e decidiu por conta própria voltar a Barranquilla, alegando problemas físicos – os médicos do Trabzonspor não conseguiram encontrar lesões. Foi comprado em fevereiro de 2011 pelo Racing, por US$ 3 milhões, praticamente o valor que exige o River Plate hoje para liberá-lo.

Arma no vestiário

Em Avellaneda, viveu de altos e baixos. Foi artilheiro do Clausura, com 11 gols, mas ficará marcado pelas polêmicas. Brigou com o goleiro Mauro Dobler em um treino, foi expulso contra o Boca Juniors (por gestos obscenos) e também no clássico contra o Independiente (por xingar o árbitro), quando acabou confrontado pelo goleiro e colega de clube Sebástian Saja, ex-Grêmio. O que Teo fez? Sacou uma arma de ar comprimido no vestiário. A polícia precisou invadir o vestiário para intervir.

– Como jogador é excepcional, já demonstrou isso no futebol argentino. Mas os jogadores de futebol devem reunir muitas outras coisas além de suas qualidades. Sim, foi a noite mais difícil da minha carreira, incomparavelmente – afirmou Saja.

O comportamento de Teo virou tema na Argentina.

– Teófilo é uma pessoa de um grande coração, mas tem uma origem social precária, humilde. Eu sei porque estive duas vezes na Colômbia e conheci o lugar onde nasceu e viveu – e é um lugar muito perigoso, precário, cuja cultura e educação são muito primárias. E isso faz com que ele não possa discernir o que é importante e o que não é – afirmou na ocasião Pablo Podestá, vice-presidente do Racing, à rádio “La Red”.

Melhor da América em 2014

O talento, pelo menos, nunca foi questionado. Neste meio tempo, Teo já fazia os seus gols pela seleção colombiana e foi importante parceiro de Falcao García nas eliminatórias para a Copa do Mundo – marcou nove gols na campanha, seis a menos que Falcao e três a menos que James Rodríguez.

No Mundial do Brasil, na ausência do Tigre, teve de atuar sozinho por vezes e também se saiu acima da média. Aos corintianos, um alento, já que ele chegaria com a missão de substituir o centroavante peruano Paolo Guerrero em seu oitavo clube na carreira (jogou por Lanús e Cruz Azul antes de ir ao River).

Essa versatilidade pôde ser vista no jogo contra o Brasil, na fase de grupos desta Copa América, quando Pékerman definiu sua atuação como “descomunal”. Pelo River, um 2014 marcante terminou com o título da Copa Sul-Americana e a eleição de melhor jogador da América do Sul no ano, mesmo prêmio que Ronaldinho faturou em 2013, e Neymar levou em 2012 e 2011.

– O River com Teo é uma coisa, sem ele é outra. Teo é de outra categoria e mostrou porque jogou a Copa e está com sua seleção. Faz a diferença – analisou Juan Román Riquelme, ex-jogador e ídolo do Boca Juniors.

O ano de 2015, até agora, tem sido razoável, mas os corintianos já sabem que Teo Gutiérrez não obedece a lógica.

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