Desilusão em clube rival quase impediu Chicão de virar ídolo corintiano

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  • Folhapress

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Mesmo longe do clube há quatro anos, ele ainda é chamado de “Chicão do Corinthians”. Prova mais que contundente de que a passagem que o zagueiro teve pelo Timão, de 2008 a 2013, fez com que o torcedor não se esqueça de seu nome. Mas o que muita gente não deve saber é que uma desilusão no time B do Santos quase o tirou de vez do futebol.

“Em 2004, eu fiquei oito meses parado na Portuguesa Santista. O tempo foi passando e, nesse meio tempo, eu fui para o Santos B. Fiquei dois meses lá e estava jogando tudo, mas disseram que não daria para eu ficar. Eu saí, fiquei desempregado e não tinha mais como me empregar. Foi quando pensei em parar de jogar futebol”, revelou o ex-zagueiro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Apelidado em homenagem ao falecido ex-volante Chicão, que fez história no São Paulo, o ‘Chicão do Corinthians’ se chama Anderson e contou com o apoio da família para que não tivesse que abandonar a carreira precocemente. “Eu pensei, sim… Ah, o cara fica pra baixo, as coisas parecem que não vão acontecer, você acha que não vai dar certo”, acrescentou.

O torcedor corintiano agradece por isso: depois de passar por Juventude e Figueirense, onde começou sua trajetória de zagueiro-artilheiro, o ex-jogador ajudou a reerguer o atual campeão brasileiro desde a Série B de 2008 até o topo do planeta.

Mas não é só o clube que deve algo a ele; o próprio Chicão é muito grato e se mostra muito orgulhoso pelo que pôde fazer no Corinthians. Nesta conversa, o xerife de 36 anos conta como lidou com o falecimento de seu avô horas antes da final da Copa Libertadores de 2012, o que a dor da derrota para o Tolima o ensinou e qual é a sensação de se ver no meio de um terremoto na Índia.

Para fechar, ainda deu sua resposta para a pergunta que muitos corintianos se fazem: quem é melhor entre Mano Menezes, que iniciou o renascimento do clube na segunda divisão, e Tite, que consolidou o Corinthians no cenário internacional com o Mundial de 2012? Confira:

Leonardo Soares/UOL

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Chicão do Corinthians

Eu sou reconhecido na cidade, em shoppings, essas coisas, como ‘Chicão do Corinthians’. Eu passei pelo Flamengo e tenho uma história bacana por lá também, fui campeão estadual até no Bahia em 2015, mas o pessoal me chama de Chicão do Corinthians.

Tenho uma história bacana construída no Corinthians, foram seis anos maravilhosos lá e eu não tenho do que reclamar. Lembro do primeiro dia que eu cheguei e do dia que eu saí. O Corinthians representa tudo para mim. Tudo o que eu tenho hoje, graças a Deus, boa parte foi o Corinthians que me deu.

Até esse reconhecimento hoje: dizer ‘Chicão do Corinthians’ é muito forte. A gente vê a torcida pedindo para eu voltar em algum cargo no clube. Representou muito eu ter chegado no pior momento e levado o clube até o ápice, que é chegar no Mundial. Sou um dos jogadores que têm mais títulos no clube, junto com Alessandro, o goleiro Júlio César, o Marcelinho Carioca… Então a gente está ali entre os tops que têm mais títulos. Isso é legal porque hoje existe o reconhecimento.

Como atraiu o Corinthians?

Eu comecei a aparecer mais devido aos gols. No segundo turno do Brasileiro de 2007, contra o Corinthians, eu fiz um gol de pênalti no Pacaembu. E no primeiro turno, em Santa Catarina, dei um chute de voleio que o goleiro Felipe pegou. Ali já estava meio caminho andado para eu ir para o Corinthians, e não teve nem empresário que negociou nada.

Reconstrução do clube

Não tinha um CT, não tinha uma estrutura… Hoje é totalmente diferente, hoje o Corinthians é uma referência no país. Jogadores que se machucam lá fora querem se tratar no Corinthians. Eu, por exemplo, tive proposta para jogar em outro time em 2008 e não fui. Eu preferi jogar na Série B porque sabia do projeto que tinha ali, e depois chegou o Ronaldo Fenômeno.

Ele trouxe as ideias dele de convivência fora do país, ajudou na montagem do CT e acabou transformando o clube em uma das potências do país hoje. Com estádio próprio, mesmo que ainda esteja pagando. Nós pegamos uma situação muito difícil, mas hoje o Corinthians é uma das maiores estruturas do Brasil.

Por que saiu?

Eu acho que a diretoria queria fazer uma reformulação, então começou ali, com o Jorge Henrique, comigo, depois com o Emerson Sheik… Enfim, tudo o que aconteceu depois.

Pediu muito dinheiro para ficar?

Eu voltei de lesão e achei até que ia jogar, mas me chamaram e disseram que eu não ia jogar mais, que era bom eu procurar outro clube. Não houve proposta do Corinthians para renovação… Algumas pessoas disseram que eu pedi um caminhão de dinheiro, isso é mentira. Eu não estava nem jogando!

Eu fiquei chateado com a situação. Saiu para a imprensa que eu tinha uma proposta que eu não tinha, e depois disseram que eu que não quis renovar. Às vezes você fica chateado na hora ali, mas existem coisas que vêm para o seu bem: eu saí do Corinthians, fui para o Flamengo e fui campeão. Fui para o Bahia e fui campeão baiano, vice-campeão da Copa do Nordeste. A minha vida seguiu.

Flávio Florido/UOL

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O que o Tolima ensinou?

Em 2011 veio aquele desastre, vamos dizer assim. Talvez tenha sido até um aprendizado: se não se preparar bem, você paga um preço muito grande no futebol. De repente a gente não se preparou bem… Eu não digo comissão técnica ou jogadores, eu digo no geral.

Falo de diretoria à comissão técnica, jogadores, todos. A gente tinha que se acostumar a disputar a Libertadores e foi o que aconteceu em 2012. Nós ganhamos o Brasileiro de 2011, e em 2012 o time já estava mais cascudo, mais maduro, era um time que aguentava a porrada e a pressão.

Campanha pela Libertadores

Contra o Vasco foi estilo Corinthians, né, vamos dizer assim. Aquele lance do Diego Souza com o Cássio, e aí vai o Paulinho e faz o gol. Depois você pega o Santos do Neymar, e o Neymar voando! O nosso time não tinha um craque, a gente tinha um conjunto. O Santos tinha craque, mas a gente tinha um conjunto, então o conjunto prevaleceu em cima do craque. Ganhamos na Vila Belmiro e empatamos no Pacaembu.

E o temido Boca?

Depois tinha o Boca Juniors, com a tradição que eles têm de jogar Libertadores, de ter ganhado em cima de brasileiros nas finais, de ter eliminado clubes brasileiros… Então criou todo aquele suspense, será que vai dar para o Corinthians? Aí você chega na Bombonera e vê o estádio lotado, a torcida gritando, uma pressão enorme… E você toma um gol.

Só que aí entra um jogador que nunca tinha tocado na bola com a camisa do Corinthians [Romarinho] e ele acaba fazendo um gol! Era o ano para ser campeão mesmo, por tudo o que aconteceu e tudo o que o grupo trabalhou. Marcelinho Carioca, Neto, Basílio… Estão todos na história do clube, mas não tiveram a oportunidade que a gente teve de ganhar a Libertadores.

Falecimento do avô

O jogo mais importante da minha vida foi a final da Libertadores contra o Boca, lá na Argentina, porque o meu avô faleceu bem no dia. Ele se chamava Messias e eu estava em Buenos Aires. Se voltasse, não chegaria a tempo do enterro, e ainda não participaria dos melhores momentos da minha vida e do clube. E até mesmo os melhores momentos para o meu avô, que gostava de futebol e torcia por mim.

Por que deixou o Flamengo?

É o que eu falo, tem muitas coisas estranhas que acontecem no futebol e que a gente não sabe. Ele [Luxemburgo] disse que não ia renovar comigo porque ia contratar um meia, disse que o meu salário era alto. Eu agradeci, mas não teve nenhuma proposta de redução de salário, não teve nada disso.

Gilvan de Souza / Flamengo

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Saída do Bahia

Eu não gosto de sacanagem, não gosto de coisa errada. Poderia ter ficado no Bahia até o dia que eu fosse pra Índia, mesmo que não estivesse jogando. Mas eu falei que não, sou muito correto. Eu cheguei no presidente e falei para rescindir o contrato porque é assim, assim e assado, eu estou indo pra Índia e seria sacanagem ficar aqui com vocês só recebendo.

Terremoto com Roberto Carlos

Teve um terremoto [em outubro de 2015] e o epicentro foi lá na Índia. Chegou só o finalzinho e tremeu tudo, a cama mexendo… Aí largamos tudo e saímos correndo. Hoje a gente dá risada mesmo, mas na hora fica todo mundo branco, querendo vir embora. É uma coisa que eu não desejo para ninguém, por isso tenho vontade de morar em casa [risos].

O nosso andar era o último e saiu todo mundo correndo. Mas é engraçado, porque na hora que a gente estava descendo a escada, o Roberto [Carlos] gritou ‘calma, calma, calma’. Aí todo mundo fica calmo e ele vai passando por todo mundo na corrida. Ele foi esperto!

Ainda dá para jogar aos 36?

Não dá. Não dá pra sofrer. Eu estou vendo alguns jogadores aí sofrendo, jogando por jogar e passando uma vergonha.

Pensa em fazer o quê?

Até teve uma época que eu pensei em ser treinador e começar como auxiliar, mas cheguei numa conclusão que não dá. Eu tenho uma visão muito boa do futebol, mas o grande problema é ter essa paciência.

O Tite, por exemplo, tem que lidar com esse tanto de pessoas, que é um negócio de vaidade, de um querer ser melhor que o outro. Eu não tenho tanta paciência para essa parte, porque eu gosto das coisas corretas. Se eu vejo uma coisa errada, eu já vou dar uma dura no cara.

Flavio Florido/UOL

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Prefere Tite ou Mano?

Tite é o melhor treinador com que eu trabalhei. Dispensa comentários, nós ganhamos juntos os melhores títulos. O Mano tem suas qualidades, trabalhei com ele no Flamengo também e é um excelente treinador. Acabou de ser campeão da Copa do Brasil e provou isso mais uma vez, mas cada um tem o seu método de trabalho.

O Mano é mais duro, cobra de um jeito mais duro, já o Tite sabe cobrar de um jeito que não vai te colocar para baixo. Cada um com o seu estilo e a gente não pode ficar comparando. O Mano tem o meu respeito, mas o Tite sabe lidar com o grupo.

Como será o Tite na Copa?

Eu vou torcer muito, ele merece. Os jogadores que estiverem abraçados com ele têm grande chance… É que a gente viu pouco teste com outro tipo de seleção. Teve agora há pouco o teste com a seleção da Inglaterra, e o que se viu é que não vai ser fácil. Foi um bom teste nesse sentido, para que o Tite pudesse sentir que não será fácil quando chegar na Copa do Mundo.

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