Jadson fala de boicote a Luxa na China e diz que merecia seleção em 2015

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Jadson tinha um imenso desafio pela frente quando voltou a defender o Corinthians no começo deste ano. Depois de uma passagem pelo futebol da China, o meio-campista voltou ao clube no qual sagrou-se campeão brasileiro de 2015. Agora, meses após o acerto com o time alvinegro, o jogador de 33 anos está perto de conquistar mais um título pela equipe. Neste domingo, encara a Ponte Preta na final do Paulista, às 16h, na Arena Corinthians.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Jadson falou sobre a situação do Corinthians e dele próprio às vésperas da decisão em Itaquera. O meia abriu o jogo sobre sua passagem na China e um boicote sofrido por Vanderlei Luxemburgo na ocasião pelo Tianjin Quanjian-CHN. Além disso, disse que abriu mão de dinheiro para retornar ao clube de Parque São Jorge, comentou o fair play de Rodrigo Caio, escolheu um jogo marcante na trajetória do Paulistão e falou até em quem pretende votar nas eleições presidenciais de 2018. 

Confira a íntegra da entrevista exclusiva com Jadson:

Decepção com Dunga 

Fiquei um pouco chateado na época [2015] por não ter ganhado uma oportunidade. Acho que tinha jogadores que na época tinham sido convocados e eu acho que poderia estar em um melhor momento. O Tite ainda conversou comigo na época, falando que se eu continuasse jogando daquele jeito eu conseguiria uma oportunidade. Eu cheguei e falei para ele que, pelo que fiz no campeonato, se eu não tinha ganho uma oportunidade, seria difícil.

Eu já estava meio desanimado. Não com a seleção. Com o treinador que não estava dando uma oportunidade. Por isso resolvi ir à China. Mas o sonho da seleção sempre existe. Todo jogador, independente da idade, [o sonho] é defender a seleção. Meu sonho é voltar para lá e ajudar o Corinthians aqui a ganhar títulos.

Luxa acusou boicote na China. Jadson viu “coisas estranhas”

Luxemburgo é um cara muito tranquilo, sempre me dei bem com ele, pela forma de trabalhar. Nessa parte de contratações a gente não participava. Mas tem coisa no futebol que a gente ouve e tem de ficar calado. Eu, o Luis (Fabiano) e o Geuvânio vimos algumas coisas que não são comuns no futebol. Mas não é bom entrar em detalhes… mas deu para vocês se ligarem na resenha. 

Viu alguma armação de resultados?

Eu, o Luis [Fabiano] e o Geuvânio tínhamos uma amizade muito grande com a comissão. Era como uma família, só a gente de brasileiro fora do país. A gente tentava se unir ao máximo. Sabíamos [jogadores brasileiros] que tinham muitos caras que saíam do Brasil e deixavam a família para ir atrás da oportunidade. A gente sabia que poderia proporcionar para eles esse êxito, então era uma carga muito grande, porque nós três tínhamos de resolver todo jogo. Todo jogo estávamos conseguindo. Conseguiu dar o melhor, mas chegou um momento que vimos que os três não iam resolver todo jogo. Mas isso já passou. Não tenho muito o que falar da China, só tenho que agradecer pela oportunidade.

NR.: Luxemburgo declarou que foi boicotado por diferenças com o diretor Li Weifeng e acusou jogadores chineses de corpo mole. 

Em 2015, virou titular no ônibus

Fomos para a Flórida Cup. Eu tinha amizade com o Renato Augusto. Nos treinos, o Tite montou a equipe titular. Eu estava treinando sério, me dedicando para conseguir uma oportunidade com ele. O Renato sempre falava para mim: ‘continua trabalhando sério, porque o homem gosta de você’. Comecei a mentalizar aquilo. O Lodeiro jogou o campeonato lá (Florida Cup), estava indo bem também e apareceu a oportunidade de ir para o Boca. Acho que era o sonho dele. O Tite no ônibus viu que o Lodeiro não queria ir para o jogo, me chamou e falou: ‘tá aqui a oportunidade que você queria, vai lá e joga’. Depois daquilo as coisas começaram a dar certo. Começaram a acontecer. Havia um pouco de desconfiança porque terminei 2014 no banco. Tive de correr atrás.

NR.: A situação descrita por Jadson foi a minutos da estreia contra o Marília, na abertura do Paulista 2015. Dali em diante ele se firmaria como um dos pilares do time campeão brasileiro daquele ano.  

Recusou propostas melhores pelo Corinthians

Eu tinha dois anos de contrato, cumpri um ano lá. A diretoria resolveu tirar os jogadores para contratar jogadores de mais nome. A gente esperou para conversar sobre a rescisão. Fiquei 15 dias lá, já estava começando a ter dor de cabeça lá, os caras me enrolando [risos]. No fim deu certo e vim para o Brasil. Tinha propostas de outros clubes, mas sempre deixei claro para o meu empresário que a preferência era do Corinthians. Queria voltar para cá. Às vezes ele vinha com valores superiores ao Corinthians, mas eu falava que queria voltar para cá e ser campeão novamente, deixar meu nome gravado.

Abriu mão de muita grana?

Era um valor considerável. Eu sabia que o Corinthians não estava numa situação boa de dinheiro por causa de várias situações. O presidente foi muito sincero comigo. Falou que conseguiria chegar até ‘tanto’ e falei para o meu empresário que queria vir para cá. Conversei com o Carille também antes. Ele falou que contava com o meu futebol. Voltei e estou feliz aqui.

VANESSA CARVALHO/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

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Jadson se apresenta em 2014

“Migué”? Com Jadson, não

Na época eu pedi três anos de contrato, e o clube falou dois anos. Às vezes, o clube pode achar que vou chegar e dar ‘migué’, mas nunca fui disso, sempre trabalhei sério em busca dos meus objetivos, que são vitórias e títulos. Aceitei os dois anos e vou dar o melhor para quem sabe ficar mais. São dois anos, vou correr atrás para renovar.

Excesso de peso na chegada

O Joaquim [Grava, médico] falou, mas eu nem cheguei a me pesar na época. Foi uma forma de ele dizer que eu estava um pouco acima. Faz parte. O doutor Joaquim é um cara muito bacana, sempre me tratou bem, sempre trata todo mundo super bem. Não foi na maldade que ele falou, tenho certeza. Até falei na época que estava dois meses parado, de férias, estava esperando o contrato. Acabei perdendo um pouco. Os jogadores já estavam na pré-temporada e chegaram num nível melhor que o meu. Tive de correr atrás, treinei quase um mês em dois períodos por dia porque sabia que precisava chegar ao nível deles.

NR.: Consultor médico do clube, Grava declarou que Jadson estava quatro quilos acima do peso ideal.  

Um jogo mostrou que era possível ser campeão

Acho que foi contra o Palmeiras, que nem atuei. Estava me preparando, fui assistir no estádio. O juiz deixou a gente em situação difícil e o time, na superação, conseguiu ganhar de 1 a 0, foi um grande jogo. Depois disso a equipe começou a crescer e teve mais confiança. 

Se vê no mesmo nível de 2015?

No mesmo nível ainda não, estou tentando melhorar cada dia mais. É uma situação diferente, são grupos diferentes. Em 2015, os jogadores conseguiram ser campeões brasileiros. Era um grupo que todos conheciam a qualidade. Esse outro grupo, de 2017 é um grupo também muito bom e de qualidade, mas tinha uma desconfiança no começo. A gente conseguiu com as vitórias ganhar a confiança da torcida. Estamos tendo essa oportunidade de jogar a final e com grandes chances de ser campeão.

Nos tempos de China, Tite não descartou convocação

Fiquei feliz, porque a passagem que tive com ele aqui deixou marcado alguma coisa. Depois disso não falei mais com o Tite e ninguém da comissão. Pelo que eles vêm demonstrando, como aqui no Corinthians, são merecedores do que está acontecendo na seleção. Conseguiram ajeitar a seleção com jogadores de qualidade. Vou continuar trabalhando firme aqui. Quem sabe não aparece uma oportunidade.

Carille tem uma coisa importante que Tite também tinha

O importante é o técnico ser transparente com todos os jogadores. O Tite era dessa maneira. O Carille vem da mesma forma, tentando explicar e ser coerente da melhor forma possível. Claro que ele não pode colocar 30 jogadores para jogar, é uma decisão difícil para o treinador colocar 11 jogadores. Mas tem de ser feito. Ele tem conseguido levar o grupo na mão. Os jogadores que têm entrado se dedicam, têm dado o melhor. É dessa maneira que se constrói um grupo vencedor. O Carille está no caminho certo. Tomara que ele consiga o primeiro título como treinador.

Quais cobranças recebeu do chefe?

O Carille sempre deixa aberto para conversa, para trocar ideias também. Sempre deixou aberto para os jogadores opinarem também. Fica flexível a comunicação e a forma de trabalhar. É muito importante. Ele sempre tenta passar para os jogadores mais novos a questão de como se portar na parte tática. É um cara que tem uma forma de trabalhar bacana, por isso os jogadores respeitam ele.

NR.: No domingo passado, Carille disse que a maior lição que já teve no futebol foi ser franco com todos. Citou Jadson, o mais experiente, e Jabá, o mais jovem. 

O melhor amigo em 2015 e em 2017

Tinha mais afinidade com o Uendel, com Fagner, com o Renato Augusto. A gente conversava, às vezes saía para jantar, ir na casa do outro, mas bem pouco. Eu convivia mais com o Uendel. Hoje, tenho com Cássio, com Rodriguinho, ainda com o Fagner que é das antigas. Hoje, divido o quarto fora com o Rodriguinho.

Grupo do Whatsapp: Stuart Little

Temos um grupo de 2015 que o Uendel me colocou com Edílson, com o Gil que tá na China, com o Fagner, o Lucca que está na Ponte, com o Bruno Henrique…o grupo se chama Stuart Little, aquele ratinho do filme. Colocaram a foto do Uendel com a carinha do ratinho [risos]. Em 2015, o Uendel era o rei das montagens. Hoje o Balbuena é quem gosta de fazer montagens e joga no grupo. É bacana, une mais o grupo [risos].

O fair play de Rodrigo Caio

O Rodrigo Caio é um menino muito bom. É bem tranquilo. Na época em que eu estava lá, ele fazia o trabalho dele, sossegado. Cresceu muito de qualidade o futebol dele. Foi convocado para a seleção, o que é muito bacana. Foi atitude muito nobre. São poucos jogadores que teriam a mesma capacidade que teve de fazer isso, ainda mais em um clássico, em semifinal. Acho que são poucos jogadores que teriam a mesma capacidade isso. Ele está de parabéns. Eu não falei com ele, no São Paulo falo mais com Cícero e Wellington, que eu tinha mais amizade na época.

Mentalidade do Brasileiro não combina com fair play

Acho que o fair play existe há muito tempo. Na Europa, eles aplicam mais. Aqui no Brasil, ainda não tem essa educação, de parar o jogo, alguns não acham certo. Para se quiser, mas não é obrigado. Tem de crescer muito aqui, mas ainda vai demorar muito. A mentalidade do jogador brasileiro é diferente.

Marcador mais duro

[Jadson fica bastante pensativo, e a reportagem se lembra de Ralf]. Você se lembrou de um. Quando eu jogava contra o Ralf…graças a Deus, aqui joguei a favor. O Wellington, que está no São Paulo, nós jogamos um jogo lá [no Sul] com o Inter…ele é xarope para marcar [risos]. No Paulista, às vezes você não sabe o nome do adversário, mas teve um do Botafogo nas quartas, um volante deles que me marcou individual lá e aqui, aonde eu ia ele estava na cola. Esse é meio ‘xaropinho’ pra marcar.

Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians

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Jadson comemora segundo gol do Corinthians contra a Ponte Preta em Campinas

O que mais e menos gosta do Brasil

O que mais gosto é o povo muito acolhedor. Nosso país não tem igual. Me sinto muito à vontade em São Paulo, apesar de ser de Londrina, que é do interior, tem 400 ou 500 mil habitantes. Me adaptei aqui, é uma cidade muito boa, não tem o que falar. O que menos gosto é a segurança, falta muito ao povo brasileiro todo. Educação, também saúde, isso tudo que não gosto, deixa as pessoas que precisam, às vezes, sem atendimento adequado.

Jadson vota em Bolsonaro

Estamos vivendo uma situação muito complicada. Essa questão de investigações, Lava Jato, mas o lado da política está sem credibilidade com o povo. Sobre o Bolsonaro, eu já vi entrevistas dele no Youtube, me parece um cara correto. Se ele se candidatasse, eu votaria nele. Ele briga por valores da família e isso para mim é fundamental.

FICHA TÉCNICA

CORINTHIANS x PONTE PRETA

Data: 7 de maio de 2017 (domingo)
Horário: 16h (de Brasília)
Local: Arena Corinthians, em São Paulo (SP)
Competição: Campeonato Paulista (segunda partida da final)
Transmissão na TV: Globo e Premiere FC
Árbitro: Leandro Bizzio Marinho (SP)
Auxiliares: Tatiane Sacilotti dos Santos e Miguel Cataneo da Costa (ambos SP)

CORINTHIANS: Cássio; Fagner, Balbuena, Pablo e Arana; Paulo Roberto; Jadson, Maycon, Camacho e Romero; Jô. Treinador: Fábio Carille.

PONTE PRETA: Aranha, Nino Paraíba, Marllon, Yago e Reynaldo; Fernando Bob, Jádson e Elton; Lucca, Pottker e Clayson. Treinador: Gílson Kleina. 

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