Vilson, igreja e noiva: Cássio descreve sua versão 2.0 que já atrai Tite

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O sorriso tímido e tão raro na temporada 2016 denuncia que Cássio vive mesmo um momento especial na carreira. A felicidade contida do goleiro do Corinthians é resultado de uma série de boas notícias dentro e fora de campo, que levaram o atleta a uma nova versão. Aos 30 anos, o atleta voltou a brilhar em jogos importantes e, com isso, passou a ser cotado novamente para a seleção brasileira de Tite.

A vida pessoal também está em alta. Cássio será pai de uma menina daqui a alguns meses e derrete-se ao falar na noiva Janara – a futura esposa mostrou-se parte essencial na retomada do jogador, que mudou hábitos para evoluir profissionalmente. Nesse processo, o goleiro contou com a amizade do zagueiro Vilson e idas frequentes a uma igreja apresentada pelo zagueiro e companheiro de elenco. 

Em entrevista ao UOL Esporte, Cássio, que defendeu dois pênaltis em menos de duas semanas e está próximo dos 300 jogos pelo clube, falou sobre a fase atual, seleção brasileira, a relação intensa com Tite e Carille, além dos episódios ocorridos no ano passado, marcados pelo falecimento da avó e a perda da posição para o reserva Walter.

Confira, na íntegra, a entrevista de Cássio:

Relação com Tite hoje

Eu não tenho muito contato com ele, mas quando o Brasil conseguiu a classificação mandei uma mensagem parabenizando, porque a mudança com ele foi extraordinária. Primeira seleção a ir à Copa. Tenho de parabenizar. É preciso separar. Não mandei porque ele é treinador da seleção e quero ser convocado. Tem de reconhecer. Ele é um cara que me ajudou muito aqui no Corinthians, dentro e fora de campo. Me fez crescer. Ele também fez parte nessa mudança que eu tive. Quando ele me tirou [do time, em 2016], ele me falou que era difícil fazer aquilo e estava me ajudando, que não era sacanagem.

Chateação com Tite e Mauri

Num primeiro momento fiquei bem chateado com os dois [Tite e Mauri]. Fui muito mal numa entrevista e depois me desculpei com eles porque deveria ter falado diretamente. Um mês depois, sentamos e conversamos como homens. Da maneira que eu saí, sinto que perdi a posição para mim mesmo porque eu acho que relaxei um pouco. Abaixei a guarda e não me cuidei fora de campo. Tite me mostrou porque eu tinha saído, foi bem claro. Ele falou que eu não estava saindo pela parte técnica, era por causa da parte física. Ele me mostrou e estava correto.

Dificuldades na vida pessoal

Confesso para vocês, a perda da minha vó foi muito forte para mim. Ela que me criou, eu chamava ela de mãe. Minha mãe eu chamo pelo nome. Minha falecida vó eu chamava de mãe. Para mim foi dolorido. Perdi minha vó e depois minha posição. Fiquei chateado. As primeiras semanas foram bem difíceis para mim, para aceitar. Mas coloquei a cabeça no lugar e continuei trabalhando. Muitas pessoas pensavam que eu ia abaixar a guarda e perturbar o ambiente, “varzear” as coisa. Mas não. Tenho muito respeito pelo Corinthians, pelo que proporcionou para mim. Não tinha o menor cabimento fazer isso. Continuei trabalhando e infelizmente não estava muito bem de cabeça. Muitas vezes tentava fazer e as coisas não andavam. Demorei um pouquinho, mas nunca faltei com respeito pelo Walter, que estava jogando naquele momento. Pelo contrário, estava ali para dar suporte, de coração, não para fazer média. Confesso que ano passado foi complicado.

Ombro amigo

Um monte de gente [ajudou]. O Danilo foi um cara bacana naquele momento, conversou comigo. Tenho uma amizade boa com o Rodriguinho. Mas um cara que sempre foi muito bacana comigo foi o Vilson. Sempre foi muito franco, foi uma das pessoas que me abraçaram. Ele falava ‘vamos, gigante, vamos lá’. Ele foi um cara importante e fundamental para a mudança que tive hoje. Hoje vou à igreja e isso fez eu mudar o que sou. Não só no futebol. Sem falar de religião, cada um tem a sua. Mas eu evoluí como profissional e pessoa. Ele e a esposa dele me ajudaram, depois os pastores. Eles abraçaram minha esposa e eu. O Vilson é um amigo nas horas boas e ruins. Não conhecia ele, mas sempre ouvi as pessoas falando bem, do caráter, um cara profissional, dedicado. É um prazer trabalhar com ele.

Nova rotina do goleiro

Eu vim de uma família católica e fui uma mudança. Hoje me sinto mais feliz, respeito as religiões. Foi uma mudança que aconteceu automaticamente. Hoje eu escuto rock evangélico. Parei de beber, hoje não bebo nada, há um bom tempo. Não pensei em parar, aconteceu automaticamente. Fui mudando e evoluindo. Tenho uma companheira em casa que me ajudou muito na questão de entender o que eu queria. Na pré-temporada ela esteve ao meu lado para evoluir e voltar num nível bom para buscar a vaga de titular novamente. Foi uma série de coisas que fizeram eu crescer. Se quero ser visto como líder, tenho de dar exemplo. Como vou cobrar meus companheiros se não faço as coisas? Tenho de ser referência. Às vezes acho que falo muito palavrão [risos]. Tenho de melhorar isso. Para o começo tive uma evolução boa.

Vida saudável e sem bebida

Hoje consigo controlar bem meu peso. Não tenho mais problemas, consigo controlar minha alimentação. Hoje em dia consigo recuperar mais rápido, tenho um sono mais tranquilo. Com essa mudança acho que ganhei uns dois, três anos de qualidade para jogar mais tempo em alto nível. A disposição para trabalhar no dia seguinte é maior. Não que bebesse todo dia, mas cortar e ter uma vida mais regrada, mais focada, muda. Não dá para tomar uma cervejinha depois do jogo para relaxar, eu tomo suplemento, como uma comida balanceada. Faz diferença.

Ida à igreja

Ele [Vilson] que me convidou e confesso que no começo não fui nas primeiras vezes. A esposa dele convidou minha mulher e fomos. Lá o pastor prega sobre a bíblia e sobre perseverar, de não se acomodar, de não desmerecer ninguém. Perseverar para sempre evoluir como pessoa, como profissional. Me fez evoluir muito.

Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

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Cássio voltou a brilhar pelo Corinthians depois de mudar hábitos fora de campo

Como conheceu a noiva

Nos conhecemos em rede social. Começou a conversar, se conhecer. E começou a namorar depois. No começo foi meio complicado porque ela é de Blumenau. E a vida de atleta é bem corrida. Às vezes ia para lá para encontrar. No fim do ano passado começamos a morar juntos. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Ficar junto dela. A ajudar um ao outro. Tudo correu no seu tempo. Temos uma vida muito boa. Sou apaixonado por ela, sou grato por tudo o que ela tem feito por mim. Faço as coisas pensando na minha família e nela, porque ela não desistiu de mim nos momentos difíceis.

Estilo de comando de Carille

Acho legal não ter um capitão só. Isso é legal, divide com todo mundo. Todos se sentem importantes. Ele manteve isso de outras épocas. A última palavra sempre é dele, mas ele é um cara de cabeça muito aberta, ouve opiniões, aceita. Ele é um pouco diferente, continua sendo a mesma pessoa que era quando era auxiliar. Tem o mesmo respeito por todos os atletas. O jeito dele de trabalhar é diferente. O Tite era assim, mas acho que ele é mais relaxado, mais tranquilo. O Tite era mais pilhadão. Ele leva muito bem o grupo, conduz muito bem.

Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

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Cássio e Tite no Corinthians: 5 títulos juntos

Relação com o treinador

A gente conversa sobre tudo. Tento ajudar, mas tem um limite. Lógico que não vou chegar e falar para o Fábio: ‘Precisa trocar algum jogador’. Isso não. O que a gente conversa mais é sobre situações. Recebemos muitos lances das equipes adversárias e você vê o que pode melhorar na questão defensiva, no posicionamento do atacante, de uma bola parada ou sobre características. Falamos para tentar ajustar e melhorar.

Corinthians perdeu DNA com Cristóvão e Oswaldo?

Ele [Carille] entrou como treinador no momento certo. Ele tinha de passar e o Corinthians tinha de testar os treinadores para ver a situação. Pegou treinadores diferentes do que estava trabalhando. Para ele foi melhor do jeito que foi. Ele conseguiu montar uma pré-temporada, trabalhar com os jogadores, escolher os jogadores que chegaram, ver um Corinthians na Copa São Paulo, escolher e trazer para cá. Ele conseguiu moldar a equipe dele. No fim das contas o Corinthians fez a coisa certa de ter chamado ele só no começo do ano. O ano passado foi muito complicado. Poucos jogadores se sobressaíram, foi um ano em que muitos jogadores ficaram abaixo também. Foi uma situação que de repente ele poderia ter se queimado.

Ouviu Carille antes das mudanças?

Só conversei com ele na pré-temporada, coisas normais. Na verdade de chamar para conversar foi quando voltamos dos Estados Unidos. Até então eram conversas normais. Ele me falou que eu seria o goleiro titular. Falou que dependeria de mim para continuar sendo. Fiquei feliz porque é importante o treinador te passar confiança. Não desmerecendo os outros goleiros. Isso me deu confiança para trabalhar. Fizemos uma pré-temporada muito boa com o Mauri lá.

Começaria a temporada na reserva?

Acho que sim, ele [Carille] tinha esse critério por ele ter terminado o ano como titular. O Walter começaria como titular.

A relação com Walter

Ele está tranquilo. São coisas do futebol. Infelizmente. A gente não torce contra um companheiro, não torce para ele ir mal. O Walter tem uma cabeça boa, todos têm. Eles trabalham forte, se dedicam. O Corinthians tem quatro goleiros de ótimo nível. Matheus mostra uma frieza muito grande. Caique fez jogos muito bons. Corinthians tem goleiros para muitos e muitos anos. Temos uma amizade muito boa fora de campo, nos respeitamos. Cada um tenta buscar o espaço, tenta trabalhar para fazer o melhor, mas sempre com respeito um pelo outro.

Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians

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Capitão na final contra a Ponte, Cássio ergueu a taça de campeão paulista

Pai à distância e bebê a caminho

Sou apaixonado pelo meu filho, o Felipe [três anos], só que não vi o crescimento dele. Ele mora na minha cidade, em Veranópolis. A gente conversa diariamente. A tendência é que ele venha mais para São Paulo agora. É diferente agora, foi uma alegria muito grande. Vai ser menina. Eu zoava muito os caras aí. Agora vou ser pai de uma menina, vai ser complicado. Vou falar para eles ficarem longe [risos].

Filho é corintiano

Ele escuta o hino desde pequeno. Quando aparecia alguém de amarelo na tv, ele apontava e falava ‘papai’. Desde pequeno cantava o hino. Falava na escola que o pai era jogador do Corinthians. Hoje ele tem todas as camisas. É uma briga, porque na escola ele ia todo dia com a camisa do Corinthians. Era uma briga para tirar. Tinha de tirar e lavar. Agora tem de ir com a roupa do colégio, é complicado. Ele quer ir com a camisa do Corinthians.

Cássio quase saiu em 2016

A [proposta] do Besiktas ficou com entrave de parcelamento e datas, o Corinthians não entrou em acordo. Com o Grêmio foi mais avançado, teve proposta. Era boa para o futebol brasileiro. Acompanhei mais de perto porque uma pessoa ligada ao Grêmio veio falar comigo. Não aconteceu.

Futuro no Corinthians

Dificilmente jogaria num outro clube no Brasil. Não posso falar nunca porque de repente o clube não te quer mais e você vai. É da profissão. Só aconteceria se fosse muito bom para o Corinthians e legal para mim também. Para ser honesto não me vejo saindo. Não tenho essa ambição. Minha ambição é ficar aqui no Corinthians. Estou muito feliz, à vontade, em casa. Espero ficar aqui por muito tempo.

N.R: Cássio renovou o contrato no ano passado. O atual vínculo se encerra em dezembro de 2019.

Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

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Càssio começou 2017 como titular de Carille

O jogo contra o Chelsea

Esse jogo, mesmo que eu não veja sempre, o torcedor corintiano não deixa esquecer. Eles sempre me mandam vídeos, me marcam nas redes sociais. A defesa mais importante foi a primeira [chute do zagueiro Cahil na área, que Cássio salva em cima da linha], muita gente fala do Moses, mas foi a primeira. Se a gente toma o gol no começo do jogo, ia ficar complicado. Serei honesto: me atirei para acontecer aquilo. Pensei: ‘a bola bate, espirra, mas não entra, pelo amor de Deus’. Me atirei e não tinha visto que a bola tava embaixo da minha perna. Depois vi e segurei. Não tinha percebido que a bola estava ali.

Gosta de programas esportivos?

Todo mundo tem direito de criticar. O que não acho muito legal às vezes é o ex-atleta que passou pelas mesmas situações fazer críticas. Ele já passou por isso, por essa situações. Sabe que às vezes o jogador não está numa situação legal e continuam criticando, mas sou um cara tranquilo. As críticas que fizeram a mim eu tentei tirar proveito. Não sou um cara que vê muito. Não guardo rancor. Às vezes você vê críticas aos jogadores, não só a mim, e aí você vai ver o histórico do ex-jogador que está criticando. A gente sabe que já fez coisa pior. Ele tem todo direito de ter a opinião dele e eu também.

Maior homenagem da torcida

Foi legal o minuto de silêncio em homenagem à minha vó. Teve muito respeito.

Marcos, Dida ou Ceni?

São três monstros, não é? Eram de clubes rivais [em 2002]. O Dida aqui teve uma história muito bonita, o Marcos uma história excepcional, o Rogério no São Paulo nem se fala. Mas o Marcos naquele momento fez uma grande Copa do Mundo. Naquele momento [na Copa 2002] era a maior referência.

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