Rodrigo Bueno: Não ao preconceito contra Paulinho e Jô

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Preconceito é um negócio muito complicado. Eu confesso que tenho alguns, nada por raça, opção sexual ou religião, mas eu tenho alguns, sim, e venho tentando combatê-los. Eu tenho lido muita coisa nos últimos dias sobre dois jogadores em especial: Paulinho e Jô. E estou saindo aqui de certa forma na defesa deles, pois fiquei incomodado com um certo tratamento preconceituoso dado a eles por algumas pessoas.

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Paulinho agora é jogador do Barcelona, mas tem até gente que gosta do time catalão que não está feliz ou satisfeita com ele no clube, mesmo ele jogando bem e ganhando a posição de titular. Há um pensamento que parece ser padrão (preconceito) de que no Barcelona só pode jogar gente refinada, de fino trato com a bola, craque, gênio, malabaristas da bola e coisas do tipo. Paulinho não teria o “perfil” do Barça, isso escuto aqui no Brasil vez ou outra e também na Espanha, onde ele foi comparado de início com Davids (volante de mais pegada, mais competitivo do que lúdico). Paulinho passou a entrar no time no lugar de Iniesta, um símbolo da posse de bola e do jogo vistoso do Barcelona. E para muitos parece que Iniesta e Paulinho não cabem na mesma frase. Eles não são iguais mesmo, mas cada um tem o seu valor. E eles podem conviver harmoniosamente na equipe.

Paulinho foi decisivo na difícil virada do Barcelona sobre o Getafe, fazendo o gol da vitória nos 15 minutos finais do jogo (o período em que ele jogou). Foi eleito o melhor em campo, e eu comentei que nessa partida ele até ofuscou Messi e Suárez (não na mesma proporção que Neymar fez naqueles 6 a 1 do Barça sobre o Paris Saint-Germain). Depois, contra o Eibar, foi destaque novamente, e já ganhou elogio dos companheiros e de boa parte da imprensa. Mas há quem resista ao volante ainda, como se ele fosse óleo e o Barça fosse água. Não teriam como se misturar. Segundo o jornal “Sport”, Messi e Suárez teriam adotado Paulinho no grupo, uma forma de ele superar as críticas e as desconfianças em torno dele por parte de alguns na Espanha que acham que ele custou caro e pode entregar pouco.

Até quando irá esse preconceito, que se estende também a parte dos brasileiros, notadamente torcedores rivais do Corinthians, onde Paulinho conquistou grande projeção? O que Paulinho terá que fazer no Barça para ser visto por todos como um atleta de alto nível que pode defender o time (ele teve um aproveitamento melhor de passe do que o Iniesta contra o Eibar)? O lateral-direito Douglas estava até outro dia no elenco do Barça e parece que não era tratado com tanto olho torto na Espanha como e Paulinho (talvez porque Douglas chegou só para compor grupo e não gerava expectativa nenhuma mesmo no Barça, além de ser “só” um lateral).

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Passando agora para o Jô, o personagem da semana no futebol brasileiro, recebi mensagens do tipo: “O que esperar da ralé?”. Há uma dose grande de rivalidade clubística em mensagens desse tipo, eu sei, mas tem horas que o “corintiano, maloqueiro, sofredor”, que a própria torcida do Corinthians canta com orgulho, passa do limite, assim como acontece com os gritos de “bicha” ou mesmo de “bambi” nos estádios. Jô, além da origem humilde e de ser negro, superou grandes adversidades recentes na vida. Na verdade, ele corrigiu a vida cheia de erros que ele estava vivendo, isso no campo profissional e também no pessoal. Essa volta dele em grande estilo neste ano é deveras elogiável, é uma alegria vê-lo recuperado. E ele foi muito bem ao dar apoio a Rodrigo Caio naquele famoso Majestoso do fair play no Campeonato Paulista, um apoio que muitos são-paulinos (incluindo aí Rogério Ceni), não deram ao zagueiro (“de condomínio”, segundo alguns outros preconceituosos).

Um é branco, de classe média, joga no São Paulo, tem pinta de bom moço, correto. Jô é negro, de origem humilde, joga no Corinthians, tem histórico de balada e alcoolismo. Os estereótipos (imagens preconcebidas) são muito fáceis. Assim como tem gente que ainda propaga de forma imbecil e preconceituosa que a torcida do São Paulo é feita basicamente de quatrocentões ou de engravatados e afeminados (é a terceira maior do Brasil, vem dando show neste ano tão sofrido). Assim como tem gente que ainda trata a torcida do Corinthians como se fosse de fato uma “favela” (a torcida do Corinthians é a maior de São Paulo em todos os níveis sociais).

Jô errou ao não admitir logo de cara que usou o braço para fazer o gol da vitória contra o Vasco, mas ele não cometeu um crime, ele não é um bandido, um marginal. Ele perdeu uma chance de ouro de dar um exemplo de ética, de fair play mesmo, no jogo de Itaquera domingo. Talvez esteja arrependido disso, mas o que ele fez foi o que normalmente acontece no futebol. Citam Maradona nessas horas com o gol de mão em 1986, mas Pelé, o maior de todos, não tinha muito fair play não. Fraturou adversários, deu cotovelada em Copa, cavou e simulou aos montes, era malandro em campo.

A malandragem de Pelé e Maradona em campo foi a malandragem de Jô e seu braço. Por isso ele não pode ser condenado. Ele pode sim ser julgado (não é só Deus que julga, como Jô disse após o jogo) por qualquer um pelo seu ato, mas não pode ser vítima de preconceito por sua origem, por sua cor, por seu clube. Não ao preconceito!

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