Único no país, laboratório do Timão recupera estrelas e vira aliado de Tite

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É em um cantinho quase escondido do CT Joaquim Grava que o Corinthians guarda um de seus grandes segredos para dar suporte aos técnicos e brigar por títulos nos últimos anos. Numa mistura de ciência, curiosidade e tecnologia, o Timão desenvolveu um laboratório de biomecânica capaz de preparar e monitorar cada passo de seus jogadores dentro de campo e tentar evitar que sofram lesões mais graves.

O pai da ideia é o fisioterapeuta Bruno Mazziotti, integrante da comissão técnica permanente do clube desde a contratação de Ronaldo, em 2009. Marcado pelas seguidas lesões durante a carreira, o Fenômeno foi um dos incentivadores do projeto e até dá nome a ele: “Laboratório Corinthians R9” – ele participou da inauguração em fevereiro.

O Timão apostou em parcerias para equipar o local com o que há de mais moderno no mercado. O clube realizou diversas permutas, recebendo equipamentos e fornecendo publicidade nas paredes do centro de treinamentos, localizado na zona leste de São Paulo. O único gasto foi para adquirir dez câmeras que gravam detalhadamente cada movimento dos atletas em tratamento por cerca de R$ 800 mil. O cálculo é de que o laboratório ultrapasse o valor de R$ 2 milhões. Porto e Real Madrid possuem estrutura semelhante. No Brasil, só no Corinthians é encontrado.

Bruno Mazziotti chefia uma equipe de cinco pessoas responsáveis por fazer varreduras frequentes no elenco. As análises vão desde o tempo de reação a determinadas situações de jogo ao posicionamento dos pés no momento de um chute. Nada escapa, nem mesmo os músculos mais desgastados, detectados por uma câmera termográfica. O processo começa na pré-temporada e se estende ao longo do ano, durante as competições, conforme as necessidades do técnico Tite e do preparador físico Fábio Mahseredjian.

– Funciona como um carro de Fórmula 1. Ele precisa ser avaliado a cada treino e a cada prova. Isso vai gerar respostas para que ele tenha um desempenho melhor na próxima corrida – explicou o fisioterapeuta.

Depois de Ronaldo, aposentado desde o início de 2011, a eficiência do laboratório foi colocada à prova algumas vezes com contratações de risco feitas pela diretoria. Depois de mais de 15 lesões em menos de dois anos no Milan, Pato foi contratado como uma incógnita. A solução encontrada foi criar um equilíbrio entre treinos e recuperação após os jogos. Em 2013, ele não teve problemas físicos e atuou em 57 partidas (17 gols), um recorde na carreira – atuou 42 vezes em 2008/2009 na Itália.

Outro que deu trabalho foi Renato Augusto, hoje um dos jogadores mais importantes da equipe de Tite. Com o histórico ruim, o meio-campista teve de ser submetido a testes rigorosos que detectaram um problema na mecânica de seus movimentos, em uma junção de genética e postura. Em resumo, era mais forte da cintura para cima do que nas pernas, sobrecarregando a parte de baixo do corpo. Para corrigir isso, Mazziotti teve de atacar de inventor.

– Tínhamos de exacerbar o problema dele. Usamos palmilhas nas chuteiras que o deixavam em uma situação de completa instabilidade para que pudesse se reconstruir. Ele dizia que pisava em gelatina e não conseguiria jogar ou chutar, mas isso ajudou que fortalecesse as pernas. Se não tivesse funcionado, acho que estaria me xingando até hoje – brinca o fisioterapeuta, orgulhoso pelo jogador não se lesionar desde 2013.

O último a ser submetido a métodos não convencionais foi o volante Bruno Henrique, titular na arrancada da equipe neste Brasileirão. Em fevereiro, o meio-campista sofreu uma luxação no cotovelo esquerdo e precisou passar por um longo processo de recuperação. Apesar de não sentir dores no local e estar totalmente recuperado, o jogador ainda tinha receio de choques ou quedas no gramado. E aí…

– Eu sou praticante de luta e comecei a usar meus conhecimentos de judô e jiu-jitsu. Nós criávamos situação para que ele se defendesse de uma queda ou aplicasse uma em mim. Isso permitiu que o Bruno fosse perdendo o medo e ver que poderia voltar a campo sem nenhum problema – contou.

Apesar do investimento nos profissionais da área e na estrutura, o Corinthians abriu o laboratório para jogadores de outros clubes – o local atende até oito pessoas ao mesmo tempo. Recentemente, passaram por lá o lateral e meio-campisa Rômulo, do italiano Juventus, e os volantes Luiz Gustavo, do alemão Wolfsburg, e Renê Júnior, do chinês Guangzhou Evergrande. Rival no Brasileirão, o zagueiro cruzeirense Bruno Rodrigo também passou pelo CT alvinegro.

O fato mais curioso aconteceu em 2013, quando o Corinthians foi procurado pelo zagueiro ucraniano Dmytro Chygrynskyi, ex-Barcelona. Interessado no trabalho feito no clube com Alexandre Pato, o defensor foi orientado pelo ex-zagueiro Antônio Carlos Zago, auxiliar técnico do Shakhtar Donetsk, a procurar o departamento físico do Timão para tentar se livrar de constantes lesões musculares.

– O Dmytro ficou conosco quatro meses e, na hora de ir embora, perguntou quanto tinha dado a conta. Nós respondemos que não era nada, e ele ficou surpreso, queria pagar. Às vezes, trocamos mensagens e sabemos que ele está muito bem – contou o analista biomecânico Luciano Moreira Rosa.

Tite também parece satisfeito, sobretudo por não ter perdido nenhum jogador por lesões musculares mais graves. Neste momento, por exemplo, todos os atletas estão à disposição do treinador. Cássio e Cristian foram os últimos a frequentar o departamento médico, mas já estão liberados para atuar contra o Coritiba, domingo, às 16h, no Paraná.

Agora, o Corinthians trabalha com uma nova arma para evitar lesões e seguir no caminho do título brasileiro. O clube recebeu um software, chamado Omega Wave, capaz de medir se o jogador não está totalmente focado mentalmente em determinada atividade . A expectativa é de que o programa seja usado ainda neste segundo semestre.

– Através de ondas cerebrais, vamos ver o nível de prontidão do atleta. Ele pode estar preparado fisicamente, mas não ter uma atividade cerebral ideal por causa de um problema pessoal ou qualquer outra coisa. Essa onda cerebral vai dizer que o jogador não está apto e, a partir disso, podemos buscar o que está acontecendo – disse Bruno Mazziotti.

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