Willian diz que quase “afundou” após morte da mãe e vê Kia como 2º pai

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  • Caio Carrieri/UOL

    Willian recebeu a reportagem do UOL Esporte em sua casa em Londres

    Willian recebeu a reportagem do UOL Esporte em sua casa em Londres

O tom de voz de Willian, baixo e com a fala mansa, contrasta com o estilo de jogo de muita velocidade, técnica apurada e pé direito letal. Atributos que lhe renderam 16 títulos na carreira profissional, sendo duas conquistas do Campeonato Inglês com o Chelsea, pelo qual está próximo de alcançar a expressiva marca de 200 jogos – ostenta 197 partidas e 32 gols, já em sua quinta temporada em Stamford Bridge.

Antes do clássico de domingo contra o Manchester United, em Londres, o meia-atacante recebeu o UOL Esporte em casa, em um bairro nobre da zona oeste da cidade. Nesta entrevista exclusiva, o jogador de 29 anos explica como a sua vida mudou desde outubro de 2016, quando perdeu a mãe Maria José, vítima de um tumor na cabeça após mais de dois anos de tratamento.

Entre outros assuntos, Willian ainda explica por que o iraniano Kia Joorabichian, ex-poderoso no Corinthians acusado de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha pelo projeto da MSI no clube entre 2004 e 2007, tornou-se quase um pai para ele.

Daniel Leal-Olivas/AFP

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Relacionamento com Kia

“Gosto muito dele, o tratamento dele comigo é muito diferente, como se fosse um filho. Sempre me convida para jantar com a mulher dele. Tenho o meu pai, mas é um cara que se preocupa muito comigo. A esposa dele é brasileira e tenho contato muito próximo com ele, quase todos os dias. Ele fala muito bem do Brasil, é corintiano, torce e gosta muito do Corinthians, até acompanha os jogos”.

Kia investigado

“Não tenho muito o que dizer sobre isso. Vi as notícias, mas não sei exatamente o que aconteceu e nunca perguntei para ele o que aconteceu. Se ele está aqui (em Londres) hoje, não aconteceu nada de errado”.

O impacto da perda da mãe

“Afetou muitas coisas. Abalo emocional, físico, perdi peso. Às vezes tento esquecer um pouco, mas a minha mãe já vinha de uma luta. Quando ela ficou internada dois meses seguidos até falecer foi o momento mais difícil, porque ela não conseguia mais falar. Continuei tendo fé, em oração, acreditando em um milagre. Antes ela fazia quimioterapia e ia para casa. Por exemplo, depois que acabou o campeonato aqui, fui para Orlando (EUA) uma semana e depois voltei para o Brasil. Ela tinha uma consulta no médico, e fui com ela. O médico falou: ‘A senhora está muito bem, está curada e não vai precisar mais de medicação’. Ela começou a chorar. Dois meses se passaram, apareceu de novo e não teve como evitar, ela faleceu”.

A ajuda no momento de dor

“Claro que pai, amigos, esposa e filhas me ajudaram, mas só Deus para me dar força para voltar a ter vontade de treinar. Foi um momento muito difícil, mas muitas pessoas mostraram solidariedade com diversas mensagens, então só tenho a agradecer a todos pela força”.

O papel do Chelsea na recuperação

“Nós jogamos contra a Venezuela pela seleção, ganhamos, e minha mãe estava internada. A minha esposa perguntou se eu não queria ir para o Brasil ver a minha mãe, só que decidi aproveitar o avião privado com os meninos da seleção para voltar direto para a Inglaterra. Pensei em jogar no fim de semana e depois pedir três dias de folga para visitá-la. Quando fizemos uma escala no Canadá, foi muito estranho, porque eu estava dormindo, e quando acordei os meninos já estavam me olhando, Philippe Coutinho, Fernandinho, Thiago Silva, Marquinhos, Oscar. O pessoal também ficou bem triste, todo mundo sentiu bastante. Só que o pessoal do Chelsea já estava sabendo (do falecimento, o jogador ainda não havia sido avisado). O clube já tinha deixado o voo tudo certo para eu ir para o Brasil, e foi o que eu fiz. Fiquei uma semana com a minha família”.

Pensou em dar uma pausa na carreira?

“Passou pela minha cabeça de pedir um tempo para dar uma descansada mentalmente, porque estava complicado. Mas depois de uma semana no Brasil tinha um jogo contra o Manchester United, então decidi voltar”.

Mudança de comportamento

“Família é muito importante, isso é o que mudei. Não que eu não desse valor antes, mas hoje me preocupo bastante, quero estar perto, meu pai está aqui em casa hoje. Não sabemos o dia de amanhã. Hoje estamos aqui, mas amanhã não sabemos. Faz a diferença estar perto das pessoas que você ama”.

Copa passou a ser ainda mais especial

“Já tinha esse desejo de disputar outra Copa do Mundo, mas o sonho da minha mãe era sempre me ver na seleção, de poder ganhar a Copa do Mundo. Se eu puder ser campeão, vai ser por ela”.

Hector Retamal/AFP Photo

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Adriano nunca mais foi o mesmo após a morte do pai

“Só quem passa por isso sabe a dor. Isso abala bastante. Se você não tiver a família ao seu lado e uma relação forte com Deus, você acaba afundando. Não que seja o caso do Adriano, que também teve muito apoio, mas a fé tem de ser muito forte para superar esse momento”.

A nova geração de brasileiros na Premier League

“É bom para o futebol do Brasil. Richarlison tem muito potencial e um futuro brilhante. Fez um bom jogo contra nós, apesar de ter perdido duas chances que poderiam ter matado o jogo para o Watford. Gabriel Jesus também vem muito bem no City e na seleção. Fico feliz ao ver que novos talentos conseguem se dar bem fora do nosso país”.

Manchester City “voando”

“Não que antes não estivessem entrosados, mas tem algo diferente, que não tinha no ano passado. Esse ano dá para ver isso. Estão muito fortes mentalmente em todos os jogos. Eles podem até tomar dois gols, mas fazem cinco. Uma hora ou outra eles vão perder, não existe time imbatível”.

Antonio Conte, técnico do Chelsea

“Ele é mais na dele, fechado. Não conversa quase nada com os jogadores. Dá as instruções no treinamento, dentro de campo, mas é bem fechado. No jogo é aquilo que vocês sabem (risos)”.

Ficou próximo de sair do Chelsea?

“Teve contato com o Manchester United, mas não fiquei perto de sair. Claro que às vezes você fica chateado por não estar jogando, mas não que não goste do clube ou das pessoas que trabalham lá”.

A paixão pelo Corinthians

“Torço bastante. O Corinthians vai enfrentar o Palmeiras, que vem logo atrás, mas tem tudo para conquistar esse título. O primeiro turno foi excepcional, mas atualmente não está bem. O Brasileiro é imprevisível, ao mesmo tempo que a diferença de pontos é considerável, tudo pode mudar rapidamente”.

O rebaixamento do Corinthians em 2007

“Lembro bem, estava na Ucrânia, vendo o jogo em casa. Foi uma tristeza muito grande, por ser meu clube de coração e onde fui criado. Tinha amigos lá também. Fiz parte do time. Isso serviu de aprendizado para o Corinthians, que amadureceu com a queda, voltou mais forte e conquistou vários títulos depois”.

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